Pelo
segundo ano, o Departamento de Economia e Pesquisa da Abras, dessa vez
em parceria com a Deloitte, realiza a pesquisa RH Supermercados a fim de
revelar os dados mais importantes e os desafios a serem enfrentados
pelo setor
Por Margareth Meza
Pelo segundo ano consecutivo, SuperHiper divulga o estudo “RH Supermercados – uma pesquisa sobre gestão de pessoas e remuneração no autosserviço”.
O objetivo é abordar o comportamento das empresas do setor em relação a
um dos seus bens mais valiosos: os recursos humanos.
Dessa
vez, a análise foi realizada pelo Departamento de Economia e Pesquisa
da Abras em parceria com a Deloitte, especializada em pesquisas,
consultoria, auditoria, gestão de riscos e assessoria financeira. Ao
todo, foram ouvidas 135 empresas de todo o Brasil. Juntas, elas
contabilizam 64 mil funcionários (leia no quadro detalhes sobre a
metodologia aplicada pela Abras e Deloitte).
O
estudo aponta as principais necessidades e problemas dos
supermercadistas na hora de gerir seu pessoal, questão intrinsecamente
complexa, ainda mais diante de um mercado tão competitivo, em frequente
inovação e com clientes cada vez mais infiéis e exigentes. Traça, ainda,
o panorama do setor em relação à oferta de benefícios, à rotatividade e
às médias salariais de todas as categorias.
Salários
A
pesquisa detectou que 81% dos empregados da área operacional —
equivalentes a 86% do quadro do setor — ganham salários de R$ 511 a R$ 1
mil. Boa parte dos operadores de caixa e dos repositores tem
rendimentos nessa faixa, 96% e 93% deles, respectivamente.
Nessa
faixa salarial estão também 79% dos colaboradores que lidam com
perecíveis, assim como 76% dos que atuam na área de estoque. Mas vale
destacar que nas seções de perecíveis o percentual de funcionários que
ganham entre R$ 1.001 e R$ 1,5 mil chega a 15%, o que mostra a
importância da área, que registra o maior percentual de perdas das lojas
do setor.
Dados
do último estudo sobre perdas da Abras, divulgado em agosto, mostram
que elas chegaram a 4,07% do faturamento do setor em 2009, enquanto que
as perdas de modo geral foram de 2,32%.
Mas
os compradores são os mais bem remunerados entre os que exercem funções
operacionais. Apenas 10% ganham de R$ 511 a R$ 1 mil. Isso porque 49%
recebem de R$ 1.001 a R$ 2 mil e 35%, de R$ 2.001 a R$ 4 mil.
Porém,
de maneira geral, o salário médio dos colaboradores que ocupam funções
operacionais aumentou em todas as regiões do País esse ano. Em 2009, 26%
dos colaboradores ganhavam até um salário mínimo. Hoje, esse percentual
caiu pela metade, 13%.
A
principal mudança ocorreu no Nordeste. Em 2009, mais de 50% dos
funcionários da região tinham salários de até R$ 510. Esse ano, o
percentual caiu para 26%. Ao mesmo tempo, 61% passaram a ter rendimentos
mensais entre R$ 511 e R$ 1 mil, contra 48% no ano passado.
“Podem
explicar esse avanço o movimento nacional pelo aumento do piso salarial
de diversas categorias e o reajuste do salário mínimo, que passou de R$
465 para R$ 510 em janeiro”, afirmou o gerente sênior da área de
Capital Humano da Deloitte, Fábio Mandarano.
Entre
gerentes, 13% ganham de R$ 1.001 a R$ 1,5 mil, 16% de R$ 1.501 a R$ 2
mil e 44%, de R$ 2.001 a R$ 4 mil. Outros 22% recebem salários acima de
R$ 4.001. Na área comercial, 51% ganham de R$ 1.001 a R$ 2 mil. No
departamento administrativo, 40% têm rendimentos de R$ 1.001 a R$ 1,5
mil.
Rotatividade
Em
todo o Brasil, o turn over da categoria operacional é de até 10% em 63%
das companhias respondentes. “Esse número é positivo e, de certa forma,
ameniza aquela opinião disseminada de que o turn over no setor é
extremamente alto”, afirmou o gerente do Departamento de Economia e
Pesquisa da Abras, Flávio Tayra. “Na média nacional, apenas 10%
declararam turn over acima de 30%”, concluiu.
Na
análise regional, o Nordeste apresentou turn over relativamente baixo
na área operacional no primeiro semestre do ano, de até 5% em 61% das
companhias respondentes, e 11% declararam turn over que variou entre
30,1% e 35%.
O
Centro-Oeste chamou atenção pela rotatividade superior a 40% em 10% de
suas empresas. No entanto, em 68% das empresas da região o turn over é
de até 15%.
Quando a análise é feita por cargos, o maior turn over continua sendo o da função
de operador de caixa. Nesse cargo, a rotatividade é superior a 5% em
64% das empresas participantes. Em outros departamentos, a proporção é
menor: 48% na área de perecíveis e 51% no setor de mercearia.
Mas
algumas empresas supermercadistas estão bem aquém desse índice e são
exemplos de que é possível derrubá-lo significativamente, como as redes
Nordestão, com sete lojas em Natal (RN), e Prezunic, dona de 29
supermercados físicos e uma loja virtual na capital fluminense. Ambas
têm rotatividade geral que fica em torno dos 3%, não mais que isso.
Para
alcançar esse resultado, elas trabalham duro para valorizar, e assim
reter, os seus colaboradores. No Nordestão, o RH é composto por 35
profissionais. Conta com assistentes sociais, médicos, nutricionistas,
psicólogos, técnicos de enfermagem e de segurança do trabalho, entre
outros. “Todos atuam de forma integrada e com os demais setores da
empresa para proporcionar um melhor ambiente de trabalho”, destacou a
gerente de RH da rede, Rosane Felismino da Silva.
O
Prezunic mantém um departamento de RH com departamento pessoal, de
segurança e medicina do trabalho, recrutamento e seleção, treinamento,
benefícios e nutrição para tratar seus 7,3 mil funcionários da melhor
maneira possível.
“O
slogan da empresa ,’É muito prazer’, é o que melhor explica todas as
nossas práticas e as estratégias da organização. Focados em prestação de
serviços, acreditamos que a boa qualidade desses serviços aos nossos
clientes só pode ser proporcional ao nível de tratamento que aplicamos
aos nossos funcionários, o colaborador satisfeito é a certeza de cliente
bem atendido”, ressaltou o diretor geral do Prezunic, Genival Bezerra.
Segundo
o executivo, o setor de RH está ligado diretamente à diretoria e aos
sócios diretores e funciona estrategicamente em muitas das decisões da
empresa. Na Coop, rede de 30 lojas no estado de São Paulo, a conduta é
semelhante. A gerência de RH é subordinada à presidência, iniciativa
considerada requisito para que, de fato, o departamento possa ser
caracterizado como estratégico. Isso porque seus gerentes precisam
participar da tomada de decisões da organização, já que lidam
diretamente com os colaboradores das lojas.
Aliás,
para estreitar esse relacionamento, a rede tem um projeto chamado RH
Itinerante. “Por meio dele, uma vez por mês os colaboradores do
departamento vão às lojas para tirar dúvidas, bem como para desenvolver
equipes e gestores”, informou a coordenadora de RH, Caroline Garcia
Pinto.
Benefícios
No
setor, os benefícios mais representativos, oferecidos por mais de 25%
das empresas, são: assistência médico-hospitalar, assistência
odontológica, cesta básica, empréstimos pessoais, restaurante no local
de trabalho e seguro de vida. Os dados, entretanto, estampam uma
discrepância quando comparados com benefícios oferecidos pelo mercado em
geral.
Segundo a pesquisa Abras/ Deloitte, a assistência
médico-hospitalar é concedida por apenas 39% das respondentes para os
colaboradores das áreas operacional e administrativa. Para a gerencial, é
disponibilizado por 41% das companhias.
No
mercado geral, a oferta de assistência médica é de praticamente 100%.
“Portanto, há muita oportunidade para melhorar esse fator, que
certamente repercute na retenção de funcionários”, afirmou a gerente de
varejo e bens de consumo da Deloitte, Patrícia Dias de Souza.
De
qualquer forma, o setor tem iniciativas interessantes, como sala de
descanso e programa de assistência voltado ao bem-estar das gestantes –
funcionárias e esposas dos colaboradores - oferecido pelo Nordestão. A
rede também disponibiliza tratamento aos funcionários com patologias
associadas ao aparelho locomotor, como a tendinite.
“Resolvemos
implantar um programa de recuperação e reinserção dos nossos
colaboradores nas suas atividades laborais aplicando o tratamento de
fisioterapia e de acupuntura, realizado por especialistas nessas áreas”,
informou Rosane.
Lucros e resultados
Estabelecer
na corporação programas de participação nos lucros e resultados é outra
boa estratégia para deixar os funcionários mais motivados e,
consequentemente, diminuir os índices de turn over.
No
setor, esse tipo de bonificação não é tão recorrente, mas as regiões
Sul e Nordeste se destacam na execução de programas desse gênero. Nas
regiões, 32% e 35% das respondentes declararam mantê-los em suas lojas.
Vale destacar que a média nacional é de 26% e a região Sudeste é a que
se encontra mais abaixo dela; somente 17% das respondentes afirmaram
manter essa prática em suas organizações.
Treinamento
Para
tornar o negócio de fato produtivo e lucrativo, o fundamental é
promover ou matricular os funcionários em cursos de treinamento e
aperfeiçoamento. No setor, a notícia é boa: a maioria das empresas
insere seus empregados em programas de capacitação. A área operacional é
a mais beneficiada; 79% das respondentes afirmaram ter essa conduta em
suas empresas. O percentual está um pouco abaixo, mas se encontra
alinhado ao mercado geral, cuja oferta de treinamento é de 83% (veja
detalhes no gráfico).
Na
área gerencial, 72% das companhias treinam seus colaboradores. Nesse
caso, o percentual está 11 pontos abaixo da média do mercado geral. No
setor administrativo, 72% capacitam, mas é na área comercial que está o
maior problema: somente 59% declararam dar treinamento aos seus
funcionários.
A
Coop organiza treinamentos técnicos, comportamentais, individuais,
coletivos, presenciais e à distância para colaboradores de todos os
departamentos e cargos. “A nossa sistemática está focada no
desenvolvimento das competências críticas da empresa, além da formação e
do aperfeiçoamento em gestão de equipes”, explicou Caroline.
O
Nordestão é outra rede que promove frequentes treinamentos com os
funcionários. Eles são ministrados tanto por profissionais internos
quanto através de instituições de ensino, na medida em que a companhia
enxerga a necessidade do aperfeiçoamento profissional de cada um de seus
funcionários.
Tem
também, assim como a Coop, convênios com universidades e, por meio
deles, financia parte do valor da mensalidade de cursos de graduação,
pós-graduação e cursos afins à função realizada pelos colaboradores.
“Nosso propósito é qualificá-los e adaptá-los às constantes modificações
que ocorrem no âmbito empresarial”, diz a gerente de RH, Rosane
Oliveira.
O
Prezunic é mais uma empresa que concede esses benefícios ao seu
pessoal. Mantém convênio com uma das principais universidades do Rio de
Janeiro e, dessa forma, subsidia cerca de 40% do valor total das
mensalidades.
A
empresa disponibiliza, ainda, um curso que possibilita a conclusão do
ensino médio pelos colaboradores dentro das próprias lojas. “Eles podem
frequentá-lo antes ou depois do expediente. O sistema é o Telecurso
2000, do sistema Fiesp e da Fundação Roberto Marinho, mas os alunos
contam com uma professora em sala de aula”, afirmou Genival.
Acesso
Mas
não são apenas as grandes redes que podem capacitar adequadamente os
seus funcionários. As de pequeno porte (aliás, de todos os portes) podem
contar com a Abras, que mantém a Escola Nacional de Supermercados. A
instituição oferece 19 cursos gratuitos, ministrados em todo o País por
multiplicadores treinados e certificados pela entidade. A atuação deles é
viabilizada pela parceria estabelecida com as associações estaduais de
supermercados.
Esses
cursos certamente ajudam a suprir as carências apontadas pelas
respondentes quanto à gestão de pessoal. Segundo 70% delas, o principal
desafio encontrado no dia a dia da operação é treinar e capacitar com
eficiência os empregados.
Outras
questões, mencionadas como desafios pelas empresas, vêm na sequência.
São elas: o aumento da eficiência operacional, citado por 65%; a melhora
do atendimento ao cliente, mencionada por 60%, a diminuição da
rotatividade, apontada por 54%, e a fidelização do cliente, citada por
35% das companhias respondentes. Mas vale ressaltar que todos esses
pontos estão diretamente ligados à capacitação, pois podem
tranquilamente ser superados por meio dela.
“O
capital humano toma corpo cada vez mais importante para o varejo. A
relação do consumidor com o ponto de venda mudou muito nos últimos anos,
os clientes estão muito mais exigentes, e o capital intelectual tem
grande influência no crescimento e na longevidade das corporações”,
destacou o sócio líder da Deloitte para o atendimento de empresas do
setor de varejo, consumo e transportes, Reynaldo Awad Saad.http://www.abras.com.br/superhiper/superhiper/ultima-edicao/materia-de-capa/?materia=1552
Veículo: Revista SuperHiper novembro de 2010
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