Trabalhar em supermercados é
emprego ou escravidao moderna ? O setor de supermercados vive uma precarização
das condições de trabalho, revela pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O progresso da automação comercial reduziu o
número médio de funcionários.
Com isso os trabalhadores passaram a exercer mais
funções nas lojas, trabalhando praticamente todos os dias da semana, sem tempo
para os estudos e o convívio social. Mesmo com o faturamento crescente das
empresas, em muitos casos a remuneração dos empregados pode ser inferior ao
salário mínimo. O estudo foi realizado pelo geógrafo Herodes Beserra
Cavalcanti, com orientação da professora Léa Francesconi, da FFLCH.
O geógrafo analisou os dados do ranking divulgado
pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), entre os anos de 1994 e
2010. Também realizou dez entrevistas com funcionários de uma grande rede
supermercadista, que trabalhavam na zona sul da cidade de São Paulo, exercendo
os cargos operacionais de operador de supermercado part-time (jornada de 18
horas semanais de trabalho) e full-time (8 horas diárias de trabalho).
As estatísticas da Abras mostram que o número de
trabalhadores para cada 100 metros quadrados nos supermercados brasileiros caiu
de 7,8 em 1994 para 5 em 2010. “Uma das razões da diminuição é a crescente
automação comercial, especialmente a partir de 1994, quando terminou o período
inflacionário considerado pelos empresários um entrave para a implantação dos
leitores óticos de códigos de barras”, conta Cavalcanti. Na rede pesquisada, o faturamento
por metro quadrado passou de R$ 8.771,00 em 1994 para R$ 17.508,83 em 2010.
O faturamento por funcionário era de R$ 111.069, 00
em 1994 e chegou a R$ 315. 284,82 em 2010. “No período houve também uma
alteração dos cargos nos supermercados”, aponta o geógrafo. “Antes, o registro
em carteira era feito com uma função delimitada, como operador de caixa ou
repositor. Hoje, o funcionário pode ser registrado como operador de
supermercado e exercer as mais diversas funções, inclusive auxiliar de perecíveis,
de açougue e de padaria, além de recolher carrinhos e contribuír para a limpeza
do estabelecimento”.
Trabalho
De acordo com Cavalcanti, a flexibilização da legislação trabalhista também aumentou o volume de trabalho, com a regulamentação do funcionamento dos supermercados nos domingos e feriados e do banco de horas. “Os funcionários trabalham praticamente a semana toda, e como levam muito tempo para se deslocar para o trabalho, têm mais estresse e dificuldade para poder estudar”, afirma. “Essa rotina faz com que o setor tenha uma alta rotatividade. Em 2009, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), foram admitidos 49.192 empregados e aconteceram 44.151 demissões em São Paulo. O salário médio de quem sai é de R$ 837, 25, mas quem entra recebe em média R$ 712,00”.
De acordo com Cavalcanti, a flexibilização da legislação trabalhista também aumentou o volume de trabalho, com a regulamentação do funcionamento dos supermercados nos domingos e feriados e do banco de horas. “Os funcionários trabalham praticamente a semana toda, e como levam muito tempo para se deslocar para o trabalho, têm mais estresse e dificuldade para poder estudar”, afirma. “Essa rotina faz com que o setor tenha uma alta rotatividade. Em 2009, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), foram admitidos 49.192 empregados e aconteceram 44.151 demissões em São Paulo. O salário médio de quem sai é de R$ 837, 25, mas quem entra recebe em média R$ 712,00”.
A pesquisa mostra que os supermercados atraem
trabalhadores jovens. Na rede pesquisada, por exemplo, não é exigida
experiência prévia e os funcionários são admitidos por meio de uma prova de
conhecimentos gerais, matemática e português básicos. “O operador part-time,
embora trabalhe a metade do tempo, exerce as mesmas tarefas do full-time e não
tem direito a vale-transporte”, ressalta o pesquisador. Em dezembro de 2010, a
média salarial desses operadores em São Paulo era de R$ 213, 84 mensais,
inferior ao salário mínimo, que na ocasião era de R$ 510,00.
O geógrafo observa que apesar das convenções
coletivas de trabalho dispor sobre os dias de folga, há uma sutil pressão do
empregador para que o funcionário esteja sempre à disposição da loja, seja mais
flexível no trabalho e aumente a produtividade. “Pela Norma Regulamentadora 17,
do Ministério do Trabalho, os patrões não podem estabelecer avaliações de
desempenho para fins de remuneração ou bonificação, já que isso poderia
aumentar os casos de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e Doenças
Osteo-musculares Relacionadas ao Trabalho (DORT)”, aponta. “Outros aspectos da
regulamentação, como a exigência de um empacotador para cada três caixas, não
são cumpridos”.
Cavalcanti recomenda que as empresas levem em conta
as necessidades efetivas dos funcionários. “Eles precisam de tempo para o
convívio familiar e social, um ambiente de trabalho agradável e uma remuneração
adequada. Com isso é possível aumentar a produtividade e reduzir a alta
rotatividade no setor sem precarizar tanto o trabalho”, diz. “Os sindicatos dos
comerciários devem fiscalizar efetivamente as regulamentações de trabalho e se
engajar mais na cobrança da resolução de irregularidades”, recomenda.
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