terça-feira, 23 de março de 2010

Socialismo é quando a liberdade não é apenas um slogan”, diz Aleida Guevara


Recebida aos gritos de "sou feminista, não abro mão do socialismo e da revolução", Aleida Guevara pode ser apresentada como médica, como lutadora cubana ou, como denuncia o sobrenome, a filha de Che Guevara.



Sua primeira frase destacou que nem sempre a guerra é feita com helicópteros e baionetas. "Não há nenhuma batalha franca na América Latina, mas vivemos um conflito muito pior que é o da miséria e da exploração a que somos submetidas. Aos países com grandes mesclas sociais se acrescenta o problema das negras, muito mais exploradas", iniciou.

Após afirmar que mesmo depois dos 51 anos de revolução cubana ainda há machismo por lá, tanto quanto no Brasil, Aleida falou sobre a responsabilidade da educação. "Nós, mulheres, na maior parte das vezes as responsáveis pela criação dos filhos, precisamos formar uma nova geração com valores humanos. Temos também que dar exemplo. Não basta dizer que venham, temos que nos converter naquilo que defendemos. Che Guevara já dizia: "é mais fácil que lhe sigam do que ter que empurrar". Devemos aprender a nos comunicar, nos apoiarmos mais e buscarmos objetivos comuns para unificar nossa força."

Socialismo, licença parital e parlamento – Aleida arrancou aplausos do público ao mostrar porque a definição de socialismo assusta a tantas pessoas. "Socialismo é quando transnacionais não usam nossas riquezas para aplicar nas bolsas de valores e encher o bolso de pessoas de outros lugares. Quando temos direito à terra onde pisamos e ela se converte em tesouro que usamos para alimentar nossos filhos. Quando homens e mulheres caminham juntos em igualdade de direitos. Quando liberdade não é somente um slogan."

"Não podemos dizer a vocês como resolver seus problemas, apenas como resolvemos os nossos". Para isso, ela enumerou pontos importantes em relação ao avanço das mulheres cubanas, como a conquista da licença maternidade de 12 meses, que pode ser dividida em seis meses para a mãe e outros seis para o pai, – tal qual projeto que a CUT defende para o Brasil – apesar de concordar que na maior parte das vezes é a mãe quem fica todo o período com o filho.

Lembrou ainda que Cuba é o segundo parlamento do mundo em quantidade de mulheres – 43,6% das cadeiras. Questionada sobre aborto, disse que a prática não é proibida, frisando, porém, que o País cuida da educação sexual e dialoga sobre a prevenção da natalidade precoce e o uso do preservativo. Não deixou ainda de citar o investimento na formação de médicos – um para cada 158 habitantes. "Certa vez uma jornalista perguntou se o socialismo tinha chance real de sobreviver após queda da Rússia e do Leste Europeu. Respondi que hoje podemos mandar 400 médicos para o Haiti porque nossa sociedade nos ensina desde pequenos a respeitar e dar valor ao ser humano."

Sobraram críticas também para a imprensa, quando indagada sobre o preso cubano Orlando Zapata Tamayo, que morreu no dia 27 de janeiro após 85 dias de greve de fome. "Fico muito irritada ao ver como atuam maus profissionais do jornalismo. Por que ao invés de repetir como papagaios o que dizem os EUA, não buscam informações, não pedem explicações? Esse senhor era um preso comum, que jamais adotou uma postura política até passar a exigir fogão, televisor e telefone em sua cela e não ser atendido. Ora, economicamente não temos condições de dar isso a cada médico e professor, como premiaremos alguém que prejudicou seu povo?"

Sem perder a ternura e o carisma consanguíneos, Aleida Guevara finalizou com um esperançoso alerta. "Lutemos para que nossos filhos tenham um mundo melhor do que o nosso. Lutemos até a vitória, sempre."




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